A discreta melhora do Brasil na edição 2020 do Anuário de Competitividade Mundial (World Competitiveness Yearbook – WCY), elaborado pela escola suíça International Institute for Management Development (IMD), passando do 59º para o 56º lugar – em um universo de 63 nações pesquisadas -, revela pouca ou nenhuma melhora nos pilares que sustentam o nível de competitividade do País.
A pesquisa é realizada no Brasil com a colaboração da Fundação Dom Cabral (FDC), responsável pelo capítulo Brasil do estudo, incluindo as análises locais. Conforme o coordenador do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da FDC e líder das análises no Brasil, Carlos Arruda, como o ranking é feito comparando o desempenho dos países, as mudanças de posições do Brasil sempre curtas demonstram que evoluímos pouco nos últimos 30 anos.
Apesar do ligeiro avanço, o País permanece entre as nações menos competitivas do mundo. O ganho de três posições em relação a 2019 se explica por pequenos avanços nos pilares considerados: o País subiu uma posição no desempenho econômico (da 57ª para a 56ª), na eficiência do governo (da 62ª para a 61ª) e na infraestrutura (54ª para 53ª). O ganho mais significativo se deu na eficiência dos negócios, subindo da 57ª para a 47ª posição.
De maneira geral, observaram-se avanços na densidade de novos negócios, nos fundos de pensão, nas finanças públicas, nos custos de capital, no emprego de longo prazo, entre outros; e perdas na estabilidade do câmbio, no saldo da conta-corrente, no crescimento do capital fixo, no crescimento real do PIB, no acesso à água, na resiliência econômica etc.
“Temos que observar quais são os países que estão próximos a nós. Apesar de termos ganhado posições nos últimos três anos, continuamos oscilando nos pilares duas ou três posições, ora para cima, ora para baixo. Isso demonstra que não estamos evoluindo sistematicamente e nem resolvendo nossos problemas estruturais”, explica Arruda.
Apesar do declínio de nove posições na atratividade a investimentos estrangeiros (da 19ª para a 28ª posição), quando avaliamos o fluxo direto de investimentos do exterior, o Brasil se mantém bem colocado. É a quarta nação, em termos absolutos, e a nona em porcentagem do PIB, que mais recebe investimentos. Contudo, o balanço do fluxo de investimento direto é negativo.
“Por norma, os países desenvolvem os pilares ligados à macroeconomia para avançarem na microeconomia. No Brasil essa lógica se inverte. Temos um resultado muito melhor no que diz respeito ao que compete diretamente às empresas. Isso mostra que temos cadeias produtivas interessantes, mas só isso não é o suficiente para mudar o País. Precisamos vencer nossas dificuldades históricas para poder avançar consistentemente”, pontua o pesquisador.
Solução dos entraves – Para o professor, está na educação a principal chave para a solução dos entraves para o crescimento da competitividade brasileira. No ranking de talentos, o País recuou três posições, estacionando em um constrangedor 61º lugar, à frente apenas da Venezuela (62º) e da Mongólia (63º).
Desmembrando o índice estamos no 52º lugar em Investimento e Desenvolvimento, 49º em Recursos e 62º em Prontidão. Estamos no 51º lugar na implementação efetiva de estágios; 53º em treinamento de funcionários e a porcentagem de mulheres da força de trabalho total no 44º.
Da mesma forma, o impacto do êxodo de talentos estamos em 52º e a atratividade do País para pessoal altamente qualificado estrangeiro em 58º. A disponibilidade de profissionais qualificados 57º; a disponibilidade de gerentes com experiência internacional 58º; e a eficácia da educação universitária permanece em 61º. Despesa pública total em educação permanece alto, em 8º lugar.
“Essa é uma dificuldade histórica. Não podemos ser competitivos se não somos produtivos e não seremos produtivos com uma mão de obra pouco e mal qualificada. Temos vários exemplos no mundo de nações que só saíram do subdesenvolvimento investindo fortemente e garantindo a qualidade da educação. O estado brasileiro investe cerca de 6% do PIB, o que é um índice ótimo, mas não cuida da qualidade da educação ofertada”, pontua.
O ranking faz uma análise do cenário do ano passado na expectativa de embasar decisões agora e no futuro. A julgar pelas dificuldades crônicas apresentadas pelo Brasil nos últimos 30 anos – tempo em que existe o estudo – a perspectiva de mudanças significativas já para a próxima pesquisa é quase nula, especialmente em um cenário de pandemia e grave recessão econômica em proporções mundiais.
A comunidade empresarial atuante no País foi convidada, a partir da Pesquisa de Opinião Executiva que compõe o estudo, a identificar cinco fatores-chave para a competitividade da economia brasileira. O principal aspecto de atratividade destacado foi a abertura e as atitudes positivas, seguido pelo dinamismo da economia.
Do outro lado, o regime tributário foi evidenciado como o fator mais crítico à competitividade do País, seguido pela infraestrutura. Apenas 13,8% dos respondentes atribuíram ao alto nível educacional atuação fundamental no contexto brasileiro. Isso sugere, mais uma vez, uma lacuna nas políticas de incentivo e investimentos à educação para potencialização da competitividade.
“É certo que vamos perder pontos nessa avaliação, mas todos vão perder. Talvez não percamos posições no ranking porque os países que estão próximos a nós também sofremos com dificuldades crônica e estão tendo muitos problemas para enfrentar a pandemia de Covid-19. A pergunta é como cada um vai sair ao final dessa crise. Quem está investindo mais em pesquisa, no uso de tecnologia, quem está respondendo melhor a todo esse desafio. O Brasil não parece estar no grupo de melhor desempenho. Do ponto de vista empresarial, talvez. Estamos vendo as empresas se esforçando, se transformando. Do lado do governo, nada indica isso”, critica o coordenador do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da FDC.
Mundo – Singapura segue no topo do ranking, seguida por Dinamarca e Suíça, posições antes ocupadas por Hong Kong e Estados Unidos. Enquanto a Dinamarca apresentou um ganho de seis posições, os EUA caíram sete (de 3º para 10º, deixando pela primeira vez a lista dos cinco primeiros). Destaque positivo é atribuído também à Estônia, que subiu sete posições e assumiu a 28ª colocação, e à Grécia, que subiu nove posições e assumiu a 49ª colocação.
A liderança de Singapura no ranking de 2020 justifica-se pelo notável desempenho econômico fundamentado no comércio e investimento internacional, medidas de emprego e mercado de trabalho, finanças públicas e legislação comercial. Além disso, a nação conta com um desempenho estável em produtividade, estrutura tecnológica e sistema de ensino.
A ascensão da Dinamarca, por sua vez, está baseada no forte desempenho de sua economia e mercado de trabalho e de seus sistemas de saúde e educação, para além dos investimentos internacionais e da produtividade.
Por outro lado, os Estados Unidos, que registraram uma das maiores perdas de competitividade do ranking, passaram por processos de deterioração do comércio internacional e das finanças públicas, além de quedas nas medidas de emprego e mercado de trabalho. Persistem as lacunas na estrutura social, que já acompanham o histórico do país e se traduzem na baixa eficiência do sistema de saúde e da proteção ambiental.